No
dia 16 de agosto de 1886, um auditório de cerca de
duas mil pessoas da melhor sociedade enchia a sala de honra
da Guarda Velha, na rua da Guarda Velha, atual Avenida 13
de Maio, no Rio de Janeiro, para ouvir em silêncio,
emocionado, atônito, a palavra sábia do eminente
político, do eminente médico, do eminente cidadão,
Dr. Bezerra de Menezes, que proclamava a sua decidida conversão
ao Espiritismo. Bezerra era um religioso no mais elevado sentido.
Sua pena, por isso, desde o primeiro artigo assinado, em janeiro
de 1887, foi posta a serviço do aspecto religioso do
Espiritismo. Demonstrada a sua capacidade literária
no terreno filosófico e religioso, quer pelas réplicas,
quer pelos estudos doutrinários, a Comissão
de Propaganda da União Espírita do Brasil, incumbiu-o
de escrever, aos domingos, no "O Paiz" - tradicional
órgão da imprensa brasileira - a série
de "Estudos Filosóficos", sob o título
"O Espiritismo". O Senador Quintino Bocaiúva,
diretor daquele jornal de grande penetração
e circulação, "o mais lido do Brasil",
tornou-se simpatizante da Doutrina Espírita.
Os artigos de Max, pseudônimo de Bezerra de Menezes,
marcaram a época de ouro da propaganda espírita
no Brasil. De novembro de 1886 a dezembro de 1893, escreveu
ininterruptamente de modo veemente.
Da bibliografia de Bezerra de Menezes, antes e após
a sua conversão do Espiritismo, constam os seguintes
trabalhos: "A Escravidão no Brasil e as medidas
que convém tomar para extingui-la sem dano para a Nação",
"Breves considerações sobre as secas do
Norte", "A Casa Assombrada", "A Loucura
sob Novo Prisma", "A Doutrina Espírita como
Filosofia Teogônica", "Casamento e Mortalha",
"Pérola Negra", "Lázaro -- o
Leproso", "História de um Sonho", "Evangelho
do Futuro". Escreveu ainda várias biografias de
homens célebres, como o Visconde do Uruguai, o Visconde
de Carvalas, etc. Foi um dos redatores de "A Reforma",
órgão liberal da Corte, e redator do jornal
"Sentinela da Liberdade".
Em 1883, reinava um ambiente francamente dispersivo no seio
do Espiritismo brasileiro e os que dirigiam os núcleos
espíritas do Rio de Janeiro sentiam a necessidade de
uma união mais bem estruturada e que, por isso mesmo,
se tornasse mais indestrutível. Os Centros, onde se
ministrava a Doutrina, trabalhavam de forma autônoma.
Cada um deles exercia a sua atividade em um determinado setor,
sem conhecimento das atividades dos demais. Esse sentimento
levou-os à fundação da Federação
Espírita Brasileira.
Nessa época já existiam muitas sociedades espíritas,
porém, as únicas que mantinham a hegemonia de
mando eram quatro: a Acadêmica, a Fraternidade, a União
Espírita do Brasil e a Federação Espírita
Brasileira – esta fundada em 2 de janeiro de 1884. Entretanto,
logo surgiram entre elas vivas discórdias.
Sob os auspícios de Bezerra de Menezes, e acatando
prescrições das importantes "Instruções"
recebidas do plano espiritual pelo médium Frederico
Júnior, foi fundado o famoso "Centro Espírita",
o que, entretanto, não impediu que Bezerra desse a
sua colaboração a todas as outras instituições.
O entusiasmo dos espíritas logo se arrefeceu, e o velho
seareiro se viu desamparado dos seus companheiros, chegando
a ser o único freqüentador do Centro. A cisão
era profunda entre os chamados "místicos"
e "científicos", ou seja, espíritas
que aceitavam o Espiritismo em seu aspecto religioso, e os
que o aceitavam simplesmente pelo lado científico e
filosófico.
No ano de 1893, a convulsão provocada no Brasil pela
Revolta da Armada, ocasionou o fechamento de todas as sociedades
espíritas ou não. No Natal do mesmo ano Bezerra
encerrou a série de "Estudos Filosóficos"
que vinha publicando no "O Paiz".
Em 1894, o ambiente mostrou tendências para melhora
e o nome de Bezerra de Menezes foi lembrado como o único
capaz de unificar o movimento espírita. O infatigável
batalhador, com 63 anos de idade, assumiu a presidência
da Federação Espírita Brasileira, eleito
em 3 de agosto de 1895, imprimindo nova configuração
nos trabalhos com base nos estudos evangélicos e doutrinários,
propiciando, assim, serenidade e eficiência às
atividades da Federação. Ocupou o cargo até
a sua desencarnação, de modo que sua participação
foi de importância incomensurável para a consolidação
do Movimento Espírita no Brasil, o qual se firmou e
traçou a diretriz do grande papel que o Espiritismo
desempenharia no mundo.
Ocorrida a sua desencarnação em 11 de abril
de 1900, verdadeira peregrinação demandou sua
residência a fim de prestar-lhe a última visita.
Acerca de sua vida, diversas obras foram escritas, tais como
"Vida e Obra de Bezerra de Menezes", do paranaense
Sylvio Brito Soares (1962, ed. Federação Espírita
Brasileira); "Bezerra de Menezes, Médico dos Pobres",
de Francisco Aquarone (1975, ed. Aliança); "Bezerra
de Menezes", de Canuto Abreu (1959, ed. Federação
Espírita do Estado de São Paulo), "Lindos
Casos de Bezerra de Menezes", de Ramiro Gama (1983, ed.
Livraria Allan Kardec Editora), todos repetidamente reeditados.
Com relação às obras de sua autoria como
desencarnado, destacam-se "Dramas da Obsessão",
(romance psicografado por Yvonne Pereira (1964, ed. FEB);
"Nas Telas do Infinito" (psicografado também
por Yvonne Pereira, 1955, ed. FEB); "A Tragédia
de Santa Maria" (ainda pela médium Yvonne Pereira
(1957, ed. FEB); "Recordações da Mediunidade"
(relatos e orientações, 1968, ed. FEB); "Bezerra,
Chico e Você" (coletânea de mensagens, psicografado
por Francisco Cândido Xavier, 1973, ed. GEEM); "Apelos
Cristãos" (coletânea de mensagens, novamente
por Francisco Cândido Xavier, 1986, ed. UEM); "Compromissos
Iluminativos" (coletânea de mensagens, psicografado
por Divaldo Pereira Franco, 1991, ed. LEAL); "Garimpos
do Além" (coletânea de mensagens, via Maria
Cecília Paiva, ed. Instituto Maria); e "Fluidos
de Luz: Ensinamentos de Bezerra de Menezes" e "Fluidos
de Paz: Ensinamentos de Bezerra de Menezes" (ambos psicografados
por Francisco de Assis Periotto, respectivamente em 2001 e
2002).
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